O Cristão e o Governo

24/08/2025

Em 2 Pedro 2:13-16, o Espírito diz: "Sujeitai-vos a toda ordenação humana por causa do Senhor, seja ao rei, como soberano, seja aos governadores, como por ele enviados para castigo dos malfeitores e para louvor dos que praticam o bem. Porque a vontade de Deus é que, praticando o bem, faça emudecer a ignorância dos insensatos, como livres, mas como servos de Deus."

Hoje, consideramos a relação do cristão com o governo e as autoridades constituídas.

A Bíblia apresenta o governo humano como uma instituição divina, estabelecida inicialmente em Gênesis, capítulo 9. A estrutura governamental origina-se na família, com o pai exercendo o papel de protetor, defensor e provedor. Essa autoridade paternal evolui naturalmente, estendendo-se progressivamente à tribo, à aldeia e, posteriormente, à cidade. Com o tempo, consolida-se em nações e, por fim, em impérios. O princípio fundamental permanece: o direito de governar deriva da capacidade de garantir segurança, defesa e sustento à comunidade sob sua responsabilidade.

A palavra "governante" carrega a ideia de parentesco, mas também significa uma pessoa nobre. O governante no ideal do Antigo Testamento era um parente próximo e muito nobre, que foi promovido ao governo por causa de sua nobreza e sua relação de sangue. Como um pai protetor e chefe de família, motivado pelo amor à sua família, assim o rei, segundo o conceito do Antigo Testamento, era alguém motivado pelo amor e que se relacionava com o povo, não com o usurpador de fora, mas com alguém de parentesco consanguíneo e de caráter muito nobre. Assim, a verdadeira glória do monarca emana não da obediência servil dos súbditos, mas da felicidade e prosperidade que consegue proporcionar-lhes, reforçando os laços de lealdade e bem-estar comum.

Certamente você já leu o Salmo 72 , onde o rei vem do céu para governar toda a terra. Leia também o capítulo 11 de Isaías, onde Jesus é ungido como rei sobre a terra. Você descobrirá ali que a glória do rei como governante deriva da prosperidade, liberdade e felicidade de seu povo. E esse é o conceito de rei do Antigo Testamento. E toda a Bíblia está permeada por isso. Acontece que esse ideal, no entanto, na prática humana não é perfeito, porque os governantes são homens caídos. Não há nada perfeito.

A Democracia em Israel

Em 1 Samuel 8:

  • Os anciãos de Israel pedem a Samuel que lhes dê um rei para que sejam como as outras nações.
  • Samuel se entristece com o pedido e ora a Deus.
  • Deus diz a Samuel que o povo não o rejeitou, mas rejeitou o próprio Deus como rei.
  • Deus ordena que Samuel alerte Israel sobre as consequências de ter um rei: impostos pesados, servidão e abusos de poder.
  • Mesmo com a advertência, o povo insiste em querer um rei, e Deus permite que tenham um.

Em 1 Samuel 8, vemos um momento significativo na história de Israel, onde o povo, desejando um rei como as nações vizinhas, demonstra rejeição ao governo direto de Deus. Samuel, como profeta, fica angustiado, mas Deus o orienta a compreender que essa rejeição é, na verdade, uma rejeição a Ele. A advertência de Samuel sobre as consequências de ter um rei mostra que Deus já sabia que esse tipo de governo traria problemas, como opressão e exploração.

A escolha de um rei, em vez de um governo diretamente divino (Teocrático), revela a inclinação humana de buscar liderança conforme padrões seculares. Enquanto a democracia é um sistema que permite a participação do povo, a Bíblia nos ensina que a verdadeira autoridade deve estar em alinhamento com a vontade de Deus. Portanto, é essencial que toda forma de governo busque refletir os princípios de justiça e retidão que encontram sua fonte no Senhor. A soberania de Deus deve sempre ser reconhecida, independentemente da estrutura política em que vivemos.

Nenhuma forma de governo humano é perfeita.

A perfeição é uma aspiração inatingível nas relações humanas, pois todos são falhos por natureza. Nem o casamento, nem a paternidade, nem a liderança política escapam dessa realidade. Cônjuges, professores, filhos e governantes carregam consigo imperfeições inerentes à condição humana. A busca por um governante ideal é, portanto, uma ilusão, pois mesmo os estadistas mais notáveis permanecem sujeitos aos mesmos limites e falhas que qualquer outro indivíduo. O alinhamento com Deus, não a perfeição, deve ser o objetivo.

Portanto, o conceito de governo, embora de origem divina, é exercido por homens imperfeitos. Não existe forma de governo perfeita no planeta, pois os governantes, seja em democracias ou monarquias, são humanos e, como tal, falíveis. Estão sujeitos às mesmas tentações que qualquer indivíduo. Contudo, nem todos são maus, ditadores ou perseguidores; há também aqueles que se dedicam com nobreza ao bem comum, demonstrando que a liderança pode ser exercida com integridade, apesar das limitações inerentes à condição humana.

Agora, Pedro se junta a nós e diz: Obediência pacífica ao governo. Estas palavras de Pedro devem ser entendidas em paralelo com outras passagens nas Escrituras. Por exemplo, Atos 5:29.

Certa vez, o próprio Pedro, o homem que escreveu estas palavras, se envolveu em uma confusão com as autoridades de Jerusalém. Ele havia pregado, orado e as autoridades do Sinédrio disseram: "Nós o ordenamos a nunca mais pregar em nome de Jesus", Pedro levantou o queixo e disse: "Deixo a seu critério se é melhor obedecer a Deus do que aos homens". E então ele prontamente saiu dali e começou a pregar. (Atos 5:29).

O mesmo Pedro que disse: "Submetam-se a toda ordenança de Deus", recusou-se a obedecer a uma ordenança de autoridades do Sinédrio. Sim, recusou-se a obedecer a uma ordenança humana quando essa entrava em conflito com a Palavra de Deus.

As leis humanas visam estabelecer a ordem, a justiça e a retidão, refletindo o melhor da natureza moral do homem. Em sua essência, tais ordenanças raramente conflitam com os preceitos divinos, pois ambas buscam o bem. Contudo, quando ocorre tal divergência, o cristão tem o dever inalienável de priorizar a Lei de Deus, guiando sua conduta pelos princípios eternos que transcendem qualquer legislação terrena. A fidelidade divina prevalece.

A função primordial do sistema prisional é conter indivíduos que transgridem as leis e normas sociais, pressupondo uma maioria moralmente íntegra. Contudo, a degeneração ética e política de uma nação pode inverter essa lógica. Historicamente, regimes totalitários demonstraram como maiorias perversas podem criminalizar a virtude, encarcerando cidadãos justos enquanto a corrupção permanece impune. Exemplos como a Rússia Soviética, a Alemanha Nazista e a China Maoista ilustram tragicamente essa possibilidade, alertando para a fragilidade das instituições perante a tirania da maioria.

A regra geral é que os cristãos sejam submissos às autoridades e jamais considerados infratores. Precisam ter vidas pacíficas e cumpridoras da lei. Mas o outro lado disso é que as leis que interferem em nossa relação para com Deus não devem ser consideradas obrigatórias pelos cristãos.

Daniel estava na Babilônia e recebeu uma alta posição como um homem honesto e cumpridor da lei. Ele conseguiu servir a Deus, guardando as leis da Babilônia, até que um dia, uma lei ruim foi aprovada. Essa lei ruim dizia que ele não podia orar a Deus. Daniel desobedeceu essa lei sem sequer perguntar se deveria. O servo de Deus simplesmente a quebrou e continuou orando a Deus em direção a Jerusalém. É claro que houve consequência: Daniel foi colocado na cova dos leões, mas ele saiu ileso. O Deus Todo-Poderoso, o Rei de todos os reis, anulou o governante envergonhado da babilônia e salvou Daniel – Daniel 6.

Convém ressaltar que Deus nem sempre faz isso. Em toda a história, milhares e milhares de mártires tiveram que dar suas vidas para obedecer às leis de Deus em uma sociedade que dizia que as leis de Deus eram ruins e as autoridades proibia os cristãos de obedecê-las.

A submissão às autoridades humanas é um princípio cristão, desde que suas leis não contradigam os mandamentos divinos. Quando há conflito entre as ordenanças terrenas e as celestiais, a prioridade do fiel deve ser a obediência a Deus. A consciência, iluminada pela Palavra, guia o cristão nessa distinção, assegurando que sua lealdade suprema permaneça com o Criador, acima de qualquer autoridade humana. (veja também Gálatas 1:8-9).

No momento em que me disserem que não posso pregar o evangelho, será meu dever sagrado pregar o evangelho.

A Igreja se eleva acima de todos os governos.

O cristianismo existe onde há democracia e também floresce em terras onde não há democracia. O cristianismo ainda floresce na China. É clandestino, certamente. Passou para o subterrâneo. Eles expulsaram nossos missionários. Eles mataram alguns de nossos líderes e fecharam as portas das igrejas. Mas eles não mataram o Espírito Santo. E eles não eliminaram a semente do evangelho.

O Brasil tem liberdade de culto. Isso é algo que Deus, em sua soberana providência, fez acontecer. Vale ressaltar que toda a liberdade religiosa que Deus nos deu pode ser mudada a qualquer momento e os cristãos precisam estar preparados.

Somos profundamente gratos a Deus pela liberdade que nos permite servi-Lo e proclamar o Evangelho sem temor de perseguição. Agradecemos igualmente pelas "Lacunas da Providência", onde Ele concede ao Seu povo a oportunidade histórica de escolher governantes com discernimento e sabedoria, rejeitando a insensatez e interesses pessoais contrários à fé e aos valores cristãos. Que essa participação seja sempre exercida com responsabilidade e fidelidade aos princípios divinos.

Aguardamos o glorioso retorno de Jesus Cristo, quando estabelecerá Seu Reino Milenar de perfeita justiça e paz. Até lá, a Igreja, como ovelhas entre lobos, enfrenta adversidade, imperfeição e perseguição. Esta missão exige prudência, adaptação estratégica e fé inabalável, sustentada pela esperança na vinda do Salvador. Este período de provação reforça a indispensável vigilância e fidelidade aos princípios divinos, assegurando que permaneçamos firmes até o cumprimento final das promessas celestiais.

O nosso sincero desejo e fervorosa oração é que a igreja de Cristo permaneça humilde, buscando incessantemente ao Senhor em oração. Suplicamos por governantes alinhados com a vontade divina, para que a nação seja abençoada. Que a igreja seja santa, convertendo-se de quaisquer maus caminhos, assegurando que suas orações sejam ouvidas pelo Pai Celeste. Reconhecemos que é Ele quem estabelece e remove governantes, conforme o Seu eterno e soberano propósito, para a Sua glória e o bem do Seu povo. Daniel 2:21.

Pense nisso e que Deus nos abençoe rica e abundantemente. Amém.