Fundamentos Destruídos

20/12/2021

Introdução


Não tenho dúvidas de que temos aqui uma metáfora retirada da construção civil. Edifícios, ainda que sejam de uma arquitetura exuberante, devem cair e se tornar um monte de ruínas quando suas fundações são minadas. Fundamentos destruídos fazem tombar toda a edificação.

Mas, a palavra "fundamentos" tem um significado maior e pode referir-se àquelas coisas nas quais a vida em sociedade repousa, ou pela qual a ordem social é sustentada. Os grandes princípios da moral, da verdade e da justiça que sustentam a sociedade, são comparados aos fundamentos sobre os quais um prédio está edificado.

Sl 11: 3 - Quando os fundamentos são destruídos, que pode fazer o justo?


Os fundamentos sobre os quais a sociedade brasileira está fundamentada foram ruídos e muitos já desmoronaram completamente. Assim está acontecendo no mundo inteiro, a degradação de todos valores e princípios. Por completa insensatez ou interesses escusos, os nossos líderes, no governo e na igreja, deixaram o sistema operante maligno destruir os nossos valores fundamentais.

Quando as bases de uma "estrutura" (física, moral, ideológica, familiar, política, religiosa, etc.) são destruídas o que os justos podem fazer?

Quando os fundamentos morais e da virtude são subvertidos e os homens não consideram a verdade e a justiça, mas agem de forma arbitrária destruindo violentamente as bases da sociedade, o que os justos podem fazer?

É nessas circunstâncias que a pergunta é formulada no Salmo 11: 1.

O que os justos podem fazer agora?

As ações do justo sempre estão apoiadas na verdade, na lei, na justiça, em planos e ações honrosas e puras. Quando isso não prevalece mais, que ações o justo pode realizar se os seus atos sempre estiveram alicerçados em princípios fundamentais que agora se encontram destruídos?

Se o mal avançou e prevaleceu; se houve quebra de padrões, inversão de valores e destruição das tradições judaico-cristãs; se os fundamentos que sustentavam a civilização como a conhecemos foram destruídos. Se não houve resistência, se deixamos acontecer, o que o justo poderá fazer agora?

O que o justo pode fazer quando os fundamentos da justiça e do governo são totalmente virados de cabeça para baixo?

I-O Conselho na Perspectiva Humana (Horizontal)

Os amigos de Davi o aconselharam a fugir para as colinas, como locais de força e segurança. Esses conselheiros, embora fossem bem intencionados, deram um conselho fundamentado no ponto de vista humano. Diante da crise, eles aconselharam Davi a fugir e a se esconder dos inimigos que estavam tramando contra sua vida. Isso fica claro nas seguintes palavras:

"Como dizeis, pois, à minha alma: Foge, como pássaro, para o teu monte? Porque eis aí os ímpios, armam o arco, dispõem a sua flecha na corda, para, às ocultas, dispararem contra os retos de coração" (Salmo 11:1,2).

Os conselheiros de Davi avaliaram que nenhum esforço valeria a pena naquele cenário de instabilidade, porque a ordem estava arruinada. Por isso disseram:

"Destruídos os fundamentos, que poderá fazer o justo?" (Salmo 11:3).

Quando os pilares do estado são destruídos. Quando as leis e as instituições de justiça são minadas (Sl 75:3; 82:5), os justos não têm a quem apelar.

O que o justo pode fazer? Não havendo apelo à justiça ou à lei, a vida nesse meio torna-se ameaçada; só resta fugir para encontrar segurança.

Diante dessa situação ameaçadora Davi foi aconselhado por seus amigos a buscar refúgio em algum lugar que fosse seguro.

II-O Conselho Guiado pela Fé (Vertical)

Aos olhos do mundo, Davi foi completamente derrubado, na medida em que tudo o que possuía foi destruído. Mas, Davi continuava confiando em Deus; o rei tinha o testemunho de uma boa consciência e nutria a convicção de que Deus estava do seu lado e seria favorável a ele.

O Salmo 11 começa com uma declaração enfática acerca da confiança em Deus: "No Senhor me refugio" (Salmo 11:1). Os crentes perseguidos sabem muito bem que o Senhor é o único refúgio seguro para eles.

Na sequência do Salmo 11 Davi aponta para a soberania de Deus. Ele mostra ter ciência de que o trono que governa o universo não está vazio. O Soberano Deus e Rei exerce controle sobre tudo e todos. Coisa nenhuma escapa à sua atenção, pois seus olhos estão atentos e sondam os homens (Salmo 11:4). (Habacuque 2:20).

Depois, o salmista confirma o ensino das Escrituras de que o Senhor, governa o universo, mas de forma imanente Ele adentra a história humana e prova tanto os justos como os ímpios na terra, e não tolera a maldade (Salmo 11:5).

Então a parte final do Salmo 11 traz uma reflexão acerca do inviolável juízo de Deus. O salmista diz que o Senhor "fará chover sobre os perversos brasas de fogo e enxofre" (Salmo 11:6). Essas palavras formam uma nítida descrição do dia do juízo onde o mal será punido com o juízo divino.

Por fim, o salmista Davi conclui o Salmo 11 louvando a justiça de Deus e declarando que os retos contemplarão a face d'Aquele que é absolutamente justo (Salmo 11:7). É por tudo isto que Davi realmente podia enfaticamente declarar:

"No Senhor me refugio" (Salmo 11:1).

Conclusão

Observamos neste salmo que há duas análises sobre a mesma situação que parecem entrar em conflito: a primeira análise está no plano horizontal, embasada na lógica e na correta observação dos fatos; a outra análise está no plano vertical e vem de um coração cheio de fé em Deus.

Davi aponta para a soberania divina. Deus na Sua justiça castigará os ímpios no tempo devido, mas será favorável aos homens justos.

As duas análises estão corretas e se complementam, porém algumas observações são necessárias.

É verdade que as ações e a esperança do justo estão fundamentadas em pilares da verdade e da justiça e que se torna muito difícil para o justo qualquer tentativa no sentido de restaurar a ordem; mas, ainda que a injustiça, a fraude e o erro prevaleçam, a primeira atitude do justo não deve ser a fuga, o retirar-se da sociedade em busca de sua segurança pessoal, deixando a comunidade em seu curso de destruição.

A presença do justo no meio do caos pode ser exatamente o fator de impedimento ou adiamento do juízo de Deus naquele lugar. O dever do justo, nesse caso, pode ser o de permanecer e resistir o mal até o fim, procurando garantir um melhor estado de coisas para todos.

Mas... assim como Ló foi retirado de Sodoma e de Gomorra, há situações em que o juízo é inevitável e não há nada mais que o justo possa fazer a não ser fugir para um lugar seguro.

Pense nisso e que Deus nos abençoe rica e abundantemente. Amém.