Apatia Afetiva

15/01/2024
Certa vez Jesus Cristo testemunhou um fato singular com respeito à indiferença afetiva de certas pessoas que pareciam insensíveis aos estímulos emocionais que as cercavam.

Havia em Israel um grupo de pessoas que pareciam normais, mas não havia nelas uma reação emocional ou comportamental coerente com os eventos ativadores de emoções do meio. Os afetos e os desafetos não eram manifestos sob quaisquer pretextos. Aquele grupo estava apático, indiferente, desinteressado, sem expressão afetiva de qualquer natureza.

Certa vez Jesus Cristo testemunhou um fato singular com respeito à indiferença afetiva de certas pessoas que pareciam insensíveis aos estímulos emocionais que as cercavam.

Tocamo-vos flauta, e não dançastes; cantamos lamentações, e não pranteastes. (Mt 11:17).

Jesus compara as pessoas daquela geração a crianças que não respondem de maneira apropriada às diferentes formas de expressão. Ele utiliza a metáfora de crianças que não dançam ao som da flauta e não choram ao ouvir lamentações. A mensagem subjacente é a dificuldade das pessoas daquela época em responder adequadamente às mensagens tanto de alegria quanto de tristeza.

As pessoas daquela geração eram incapazes de experimentar a alegria do evangelho ou a tristeza do pecado. Não tinham reação afetiva de qualquer natureza. Algo estava errado.

Afetividade Humana

A afetividade no ser humano compreende o estado de humor, os sentimentos, as emoções e as paixões, além de refletir a capacidade de experimentar o mundo subjetivamente. A afetividade é quem determina a atitude geral do indivíduo diante de qualquer experiência vivencial; ela promove os impulsos motivadores e inibidores, percebe os fatos de maneira agradável ou sofrível, confere uma disposição indiferente ou entusiasmada e determina sentimentos que oscilam entre dois pólos: a depressão e a euforia.

As duas manifestações mais visíveis na afetividade são:

As emoções são fenômenos afetivos internos que surgem geralmente de forma brusca e que também rapidamente se desvanecem.

Os sentimentos são fenômenos afetivos estáveis que resultam, em regra, da intelectualização das emoções... (Rodrigues et al., 1989, p. 15).

  • Sentir, sem pensar, faz com que sintamos uma experiência de diversos estados de ânimo, carregados de significados e de conteúdos psicológicos; como tristeza, amor, paixão, inveja, desesperança e outros mais, porém, sem o devido senso da realidade. Apenas sentir é um processo psíquico incompleto e perigoso, porque deixa o indivíduo frágil, à semelhança de um néscio.
  • Pensar, sem sentir, pode levar a pessoa a ser fria, calculista, técnica e sem misericórdia. Esse processo pode chegar ao cúmulo da distorção psicológica e comportamental (psicopatia, sociopatia).

A realidade é que, direta ou indiretamente, a afetividade exerce profunda influência sobre a conduta do indivíduo. Somos por fora o reflexo do que somos por dentro.

O texto de Mateus 11:17 está diretamente relacionado com a apatia afetiva:

Tocamo-vos flauta, e não dançastes; cantamos lamentações, e não pranteastes. (Mt 11:17).

Mas, que é apatia afetiva?

A ciência define a apatia afetiva como uma condição em que o estado emocional do indivíduo é de neutralidade e indiferença, isto é, a ausência de emoção e motivação diante de diferentes estímulos e situações.

A apatia afetiva pode manifestar-se de diversas formas, desde a falta de reação diante de estímulos emocionais até a completa indiferença em relação a valores morais e espirituais. No caso mencionado, Jesus parece apontar para uma forma específica de apatia afetiva ligada à rejeição consciente de Sua mensagem e ensinamentos.

O texto de Mateus 11:17 é uma crítica contundente à apatia afetiva deliberada pela indiferença. Jesus está dizendo que as pessoas daquela geração eram incapazes de responder adequadamente às mensagens dele, tanto as mensagens de alegria quanto as mensagens de tristeza.

A metáfora de Jesus das crianças que não dançam ao som da flauta e não choram ao ouvir lamentações é muito apropriada. Crianças são naturalmente expressivas. Elas mostram suas emoções de maneira aberta e espontânea. Quando uma criança não responde adequadamente a um estímulo emocional, isso geralmente significa que há algo errado com ela.

A apatia afetiva naquele grupo específico era um sinal de "corações endurecidos". Isso destaca a ideia de que a atitude apática não é apenas uma falta de emoção, mas uma decisão consciente de se distanciar emocionalmente de algo, neste caso, da mensagem de Jesus. O termo "corações endurecidos" implica não apenas na ausência de resposta emocional, mas também na resistência ativa à verdade espiritual.

A triste realidade era que um grupo de pessoas estava totalmente desinteressado da mensagem verdadeira e libertadora de Jesus Cristo e, por esta causa, não demonstravam interesse através de emoções. Essas pessoas tinham absorvido e desenvolvido crenças religiosas completamente desvirtuadas do discurso de Jesus Cristo ao povo. Portanto, este tipo de apatia afetiva é própria de "corações endurecidos" e como tal caracteriza-se por pecado, uma vez que as pessoas tomaram uma resolução pessoal e consciente de se abster de demonstrar afetos, assumindo uma postura de completa neutralidade ou indiferença a Jesus e a sua doutrina.

Interior e Exterior

Biblicamente há uma relação profunda e consistente entre o interior do homem e seu comportamento exterior. As Escrituras fornecem insights valiosos sobre a interconexão entre o coração humano, as crenças internas e as manifestações externas de comportamento.

As passagens bíblicas: Efésios 4:18, Romanos 1:21 e Atos 28:27, destacam a ideia de que a condição interior do coração tem implicações diretas na expressão exterior do indivíduo.

  • Atos 28:27 destaca a responsabilidade das pessoas na resistência à mensagem divina. O endurecimento dos corações, o fechamento dos ouvidos e o fechamento dos olhos simbolizam uma escolha ativa de não se envolver com a verdade, resultando em falta de compreensão e conversão.
  • Romanos 1:21 aborda a noção de que, mesmo conhecendo a Deus, as pessoas podem se desviar e ter seus corações obscurecidos por crenças equivocadas. Isso reforça a importância de como as crenças internas influenciam o entendimento e a afetividade do indivíduo.
  • Efésios 4:18 destaca a separação da vida de Deus devido à ignorância e dureza do coração do homem, sugerindo que o estado interior afeta a proximidade espiritual.

Apatia Afetiva Deliberada

A geração que Jesus se referiu apresentava-se indiferente emocionalmente diante da mensagem de Jesus porque se recusava a aceitá-la. As pessoas tinham seus próprios preconceitos e interesses, e não estavam dispostas a mudar suas opiniões. Elas não queriam aceitar que Jesus era o Messias e não querim mudar a sua mentalidade.

Crenças Distorcidas

A ideia de que a reação emocional e comportamental é resultado das crenças racionais ou irracionais do indivíduo está alinhada com a compreensão psicológica da apatia. Pessoas com crenças distorcidas ou desvirtuadas da Palavra de Deus podem desenvolver uma indiferença deliberada, especialmente quando se trata de questões espirituais ou morais.

Jesus, como excelente analista do comportamento humano, sabia perfeitamente que o que o exterior (comportamento, atitudes) é fruto do interior (coração) que possui natureza equivalente.

O que é crença?

É uma atitude mental que consiste na aceitação de uma ideia que se considera verdadeira e à qual se dá todo o crédito.

Se o interior do homem estiver cheio de pensamentos negativos, crenças irracionais e coisas do tipo, a afetividade do indivíduo será também prejudicada e esse estado interior será exteriorizado no comportamento do indivíduo.

Entenebrecidos no entendimento, separados da vida de Deus pela ignorância que há neles, pela dureza do seu coração (Ef 4:18).

Porquanto, tendo conhecido a Deus, contudo não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes nas suas especulações se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu (Rm 1:21).

Porque o coração deste povo se endureceu, e com os ouvidos ouviram tardamente, e fecharam os olhos; para que não vejam com os olhos, nem ouçam com os ouvidos, nem entendam com o coração nem se convertam e eu os cure (At 28:27).

A indiferença afetiva dos judeus contemporâneos de Jesus, sinalizava exteriormente suas crenças interiores equivocadas, distorcidas e irracionais. Eles não criam no Evangelho; em vez disso alimentavam suas consciências com mentiras e crenças distorcidas da verdade. Como resultado da decisão de permanecerem com suas próprias convicções equivocadas, a apatia afetiva foi simplesmente o fruto de uma indiferença consciente de um "coração endurecido" diante da mensagem libertadora e verdadeira de Jesus Cristo.

Porque, como ele pensa consigo mesmo, assim é (Pv 23:7).

Enquanto se diz: Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações, como na provocação (Hb 3:15).

A conexão entre a indiferença afetiva dos judeus contemporâneos de Jesus e suas crenças interiores distorcidas é um ponto crucial. A recusa em aceitar a mensagem de Jesus não apenas refletia uma atitude apática, mas também revelava uma resistência arraigada às verdades espirituais. O endurecimento dos corações impediu não apenas a cura, mas também a salvação.

Esta reflexão é um alerta significativo para todos. Ela nos lembra da importância de examinar nossos corações, nossas crenças e nossas atitudes. A conexão entre o interior e o exterior destaca a necessidade de uma transformação interna para manifestar uma vida que esteja alinhada com a verdade e a vontade de Deus. Esse entendimento pode inspirar reflexão pessoal e crescimento espiritual em busca de uma verdadeira conexão com Deus.

Conclusão

É importante estarmos atentos à apatia afetiva em nossas próprias vidas. Se estamos nos tornando indiferentes aos estímulos do meio: ao sofrimento dos outros, aos sinais proféticos, aos ensinos pastorais ou à própria vida, é um sinal de que algo está errado. Precisamos identificar a causa. Se for um coração endurecido temos que confessar o nosso pecado. Se a causa for outra é preciso mudar o nosso comportamento porque indiferença aos estímulos do meio, afasta pessoas, rompe relacionamentos e prejudica o nosso crescimento espiritual.

Diga não à indiferença, à frieza, à falta de reação. Reaja, sinalize que está vivo e atento, seja participante. Envolva-se, faça parte.

Se pecou, confesse o pecado. Quando o pecado não é tratado segundo as Escrituras, o mal alastra-se no pecador e a sua ruína é grande. O que fazer?

Todo pecado precisa ser tratado conforme as orientações apresentadas pelas Sagradas Escrituras.

Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça. 1 João 1:9.

Os sacrifícios que agradam a Deus são um espírito quebrantado; um coração quebrantado e contrito, ó Deus, não desprezará... Salmo 51:17.

Quando o coração se quebranta, quando há humildade do pecador diante de Deus, quando o pecado é expurgado pela confissão genuína o homem é espiritualmente restaurado diante de Deus e os seus atos exteriores serão consequência de sua nova condição interior.

Alegrai-vos com os que se alegram; e chorai com os que choram. Romanos 12:15.

Pense nisso e que Deus nos abençoe rica e abundantemente. Amém!