O Cristão e a Lógica

25/03/2024

O Cristão e a Lógica

Hoje existe uma indiferença generalizada e mesmo uma hostilidade franca em relação à lógica e ao seu uso no cotidiano. O que é mais preocupante é que esse comportamento também está presente na igreja de Cristo. A impressão que temos é que houve o divórcio da fé com a razão.


Lógica é a coerência de raciocínio, de ideias.

A Lógica de Deus x A Lógica do Mundo

Deus não age sem nexo, sem lógica e sem um propósito.

Em certos casos, à primeira vista, a lógica de Deus pode parecer inversamente proporcional à lógica do homem. Isso acontece quando a análise da situação é superficial, sem o aprofundamento crítico e o discernimento necessário.

  • Os gigantes segundo o mundo são homens grandes, fortes, bem armados. Mas, os que confiam nas próprias forças e no poder das suas armas, costumam desprezar a Deus.
  • Deus é aquele que diminuiu o exército de Gideão de 32 mil guerreiros para 300, no intuito de vencer um poderoso e numeroso exército inimigo midianita. E desse modo a vitória de Gideão mostrou que gigante segundo Deus é aquele que mesmo fraco, quando se une ao SENHOR e confia única e exclusivamente no Seu poder, torna-se invencível.

Deus ensina o seu povo a amar não somente os amigos como também os inimigos; a tomar a iniciativa de perdoar o ofensor e não somente uma vez, mas, até setenta vezes sete; a oferecer a outra face ao invés de vingar-se.

Deus ensina que muitos dos últimos serão os primeiros e muitos dos primeiros serão últimos. Mt 19:30.

De fato, a lógica de Deus, em alguns casos, pode parecer inversamente proporcional à lógica do homem natural porque...

Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor. Isaías 55:8-9. Isso se deve...

Pelo pecado no Éden o homem perdeu as potencialidades da mente original, criada à imagem de Deus. De lá para cá, as ações de Deus vistas pelo homem natural, sem o Espírito Santo e sem o aprofundamento nas Escrituras,  serão interpretadas de modo falho e imperfeito. O homem natural não tem os recursos e as habilidades necessárias para entender as coisas de Deus.

14 Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. 15 Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido. 16 Porque quem conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo. 1 Co 2:14-16.

Portanto, quando alguém diz que Deus não se comporta "logicamente" em alguns casos, essa pessoa certamente não é renascida e está analisando a situação com uma abordagem rasa, sem a lógica devida contemplada nas Escrituras, porque não tem a mente de Cristo.

Vejamos alguns exemplos:

Quem quiser ser o maior seja o menor – Mt 20:27. Deus se refere à humildade em contraste com a prepotência; refere-se a uma liderança servidora em oposição a uma liderança tirana e que não se importa com os outros.

É melhor dar do que receber, Atos 20:35.

O mundo aprende a acumular para si riquezas, mas Deus, ensina que melhor é dar do que receber; que a verdadeira riqueza deve ser acumulada nos céus; portanto devemos ser ricos para com Deus.

É melhor dar do que receber, Atos 20:35.

Por quê?

I. Porque o significado da vida está em amar a Deus e ao próximo.

II. Por causa da alegria da doação.

III. Por causa do impacto transformador nas pessoas.

IV. Por causa do princípio da semeadura e colheita.

(1 Tm 6:18-19; Sl 37:26; Pv 11:25; 22:9)

Se estudarmos bem as Escrituras sob a luz do Espírito Santo, veremos que Deus nunca se comporta de maneira ilógica no sentido adequado. O que acontece algumas vezes é que Deus não age do modo que nós julgamos ser o mais sensato ou lógico. Deus não viola em seu ser ou pensamento as leis fundamentais da lógica.

Jesus, o Lógico

Jesus fez uso da lógica com os homens comuns e também com sábios e inteligentes.

Jesus Cristo usou a lógica de modo exato, poderoso e preciso em seu ministério, ensino e debates nesta terra. Para constatar isso, vejamos alguns exemplos.

Considere Mateus 22:23-33, onde os saduceus levantam um argumento "reductio ad absurdum" contra Jesus.

Jesus observa com muita habilidade que o dilema que seus oponentes apresentaram, carrega uma suposição errônea e maliciosa: Fica implícito na pergunta que "se houver ressurreição, na vida após a morte, haverá adultério ou poligamia porque sete homens coabitaram com a mesma mulher.

Jesus nega que exista casamento na vida após a morte (Mateus 22:29-30) e, numa simples declaração, ele mina o dilema que os saduceus levantaram.

Em Marcos 11:27-33, os líderes religiosos estão desafiando a autoridade de Jesus, e ele rebate o argumento com uma pergunta:

"O batismo de João foi do céu ou dos homens?".

Analisando a pergunta de Jesus:

(1) Se o batismo de João vem do céu, então os críticos deveriam acreditar no ensino de João sobre Jesus;

(2) Se o batismo de João não vem do céu, mas de homens, então os críticos estão em perigo por causa do povo.

(3) Ou o batismo de João vem do céu ou dos homens. Os críticos deveriam acreditar no ensino de João ou colocar-se em perigo por parte do povo. Percebendo que Jesus os havia colocado diante de um dilema desagradável, os críticos responderam dizendo: "Não sabemos de onde veio o batismo de João".

E assim, Jesus pode dizer: Nem eu tampouco lhe revelarei com que autoridade estou realizando essas obras.

Jesus Cristo foi um mestre em lógica durante o seu ministério nesta terra. Ele usou uma ampla variedade de argumentos e o fez com habilidade extraordinária.

A passagem bíblica em Lucas 13:14-16 oferece um exemplo do uso de um argumento a "fortiori" por parte de Jesus para defender sua ação em relação ao sábado. Nessa situação, Jesus foi atacado pelos fariseus por curar uma mulher que havia sido "amarrada por Satanás" por 18 anos em um dia de sábado, considerado pelos fariseus como um dia de descanso e de observância estrita da lei.

O termo a fortiori no estudo da lógica significa a partir  "do mais forte" e se refere a argumentos que buscam provar um ponto "menor" apelando para um ponto "maior" já comprovado. Se alguém consegue correr 12 quilômetros por dia, presumimos que ele consiga correr cinco. Se receber um salário de 50 dólares por mês é considerado uma quantia abaixo da pobreza, podemos concluir que aquele que recebe apenas 40 dólares por mês, também vive em condições abaixo da pobreza.

Ao apresentar seu argumento aos fariseus, Jesus estabelece duas premissas para construir seu caso.

¹A primeira premissa afirma que é amplamente aceito pelos fariseus soltar o gado de seu estábulo para levá-lo para beber água no sábado. Essa prática era permitida porque envolvia cuidar dos animais, evitando que sofressem sede e desconforto. Jesus aponta para essa prática já aceita pelos fariseus como uma base de aceitação para sua argumentação posterior.

Em seguida, Jesus passa para a ²segunda premissa, afirmando que uma mulher, que era uma filha de Abraão, ou seja, uma descendente do povo de Israel, havia sido amarrada por Satanás por 18 anos e foi libertada por ele no sábado. Aqui, Jesus ressalta que essa mulher, como ser humano, possui um valor ainda maior do que o gado solto para beber água. Ele destaca a injustiça de permitir o cuidado dos animais no sábado, mas se opor à libertação e ao alívio do sofrimento humano no mesmo dia.

A partir dessas premissas, Jesus ³conclui que se é aceitável soltar o gado no sábado para garantir seu bem-estar, então deve ser ainda mais aceitável soltar uma filha de Abraão, ou seja, uma pessoa, em uma situação de opressão e sofrimento. Com isso, Jesus desafia a visão limitada dos fariseus, destacando a importância dos princípios mais amplos de compaixão, justiça e cuidado para com o próximo.

Veja que Jesus usou simplesmente a lógica para justificar a cura no sábado. Ele não fez uso de doutrinas e nem de passagens das Escrituras. A sua argumentação foi lógica e ela é eficaz porque explora a incoerência da posição dos fariseus. Jesus os confronta com sua própria prática aceita em relação ao gado e os leva a reconhecer a maior importância e valor de uma vida humana em relação aos animais. Ao fazer isso, Jesus não apenas defende sua ação de curar no sábado, mas também oferece um ensinamento valioso sobre a importância do amor e da compaixão em relação aos preceitos legais estritos.

Esse episódio demonstra a habilidade de Jesus como mestre em lógica e retórica. Ele utilizou argumentos persuasivos para expor as contradições e a falta de coerência nas interpretações dos fariseus, chamando-os a refletir sobre o verdadeiro significado da lei e a importância de agir com compaixão e justiça. Ao fazer isso, Jesus revela sua sabedoria e sua compreensão profunda dos princípios fundamentais que regem a conduta humana.

Conclusão

Embora Jesus não tenha desenvolvido uma teoria sobre a lógica ou ensinado formalmente a lógica como um campo de estudo, é perfeitamente claro nos Evangelhos que ele fazia uso de formas e leis lógicas em seu pensamento e discurso. Nós, que somos seus seguidores, podemos e devemos fazer o mesmo.

Pense nisso e que Deus nos abençoe rica e abundantemente. Amém!

Leitura Recomendada:

 Teologia Natural – Da Revelação Divina à Percepção Humana

 SHALAR – Sistema cognitivo de análise situacional.

 ZOELÓGICA – A lógica da Vida – um modelo biblicamente fiel e logicamente coerente.

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